Refugiados Iraquianos

Surge uma crise de refugiados iraquianos

A Síria até agora recebeu 1,2 milhão de refugiados do Iraque sem qualquer ajuda do mundo exterior, mas há indicações de que as coisas podem estar prestes a mudar.
Ulrike Putzem Damasco, Síria
Um drama de refugiados do tipo usualmente visto na África está atualmente em curso no Oriente Médio - e o mundo demorou um longo tempo para notar. Cerca de 1,2 milhão de iraquianos procuraram exílio na Síria e outros 700.000 fugiram para a Jordânia. O fato desse fluxo de refugiados não ter sido reconhecido pelo Ocidente pode ser resultado do comportamento da Síria, que simplesmente considerou essa generosidade como natural. Ainda assim, para um país de 19 milhões de habitantes, receber 1,2 milhão de refugiados é comparável à Alemanha tendo que absorver 5 milhões.O resultado é que a economia da Síria está sofrendo sob a pressão. A população sofre com escassez de água, blecautes de eletricidade, competição aumentada pelos empregos, alta de aluguéis e alimentos. Mas até agora, os sírios aceitaram essa carga sem reclamação - e o governo em Damasco continua a cultivar uma política de portas abertas. Não nega asilo nem deporta iraquianos. Lauren Jolles, representante do Alto Comissariado das Nações Unidas de Direitos Humanos (Unhcer) na Síria, está cheio de elogios. "A Jordânia e especialmente a Síria estão carregando a maior carga sem reclamação", ele disse à "Spiegel Online". Ambos os países aceitaram os efeitos adversos nas suas próprias infra-estruturas e economias, disse Jolles, "mas toda criança iraquiana pode ir para a escola aqui, isso significa que agora existem entre 50 e 60 crianças em uma classe, em vez de 20 ou 30". Por muito tempo essa carga gerada sobre esses governos não foi reconhecida, disse ele, acrescentando, entretanto, que os EUA "gradualmente estão admitindo que entregaram a responsabilidade". Mas a comunidade internacional precisava ter soado o alarme muito antes, disse ele, e acrescentou: "Todos nós abandonamos a Síria." Grande pacote de ajuda necessário Uma conferência sobre assistência da Organização das Nações Unidas está marcada para meados de abril, em Genebra, e pode trazer alívio para os 2 milhões de refugiados fora do país e 1 milhão de pessoas desalojadas dentro do Iraque. "Vamos analisar a situação e ver o que é necessário", disse Jolles. Uma coisa está clara, entretanto, em sua opinião: "O resultado terá que ser um pacote de assistência muito grande."Apesar da situação desesperada dos refugiados em Damasco ser "menos visível" - porque eles encontraram acomodação nos subúrbios e não em acampamentos de tendas - os exilados iraquianos estão enfrentando problemas crescentes. "Primeiro a classe média chegou, trazendo todas as suas poupanças", explicou Jolles. "Mas essas poupanças estão gradualmente acabando." Os refugiados que estão chegando hoje são ainda mais pobres. Eles não tinham imóveis para vender em seu país natal e, portanto, não tinham dinheiro, de acordo com Jolles. O Unhcer acredita que os problemas sociais vão piorar. "Essas pessoas foram desenraizadas. Elas foram arrancadas de seus bairros e ambientes de trabalho", disse Jolles. Pior, elas têm esperanças de algum tipo de futuro. É uma situação que deixa o governo sírio profundamente preocupado. "Está tentando expandir sua capacidade de manter os refugiados sob controle", disse Jolles, explicando que Damasco quer impedir que a violência entre sunitas e xiitas atravesse a fronteira para a Síria. Mas é muito difícil ficar de olho sobre um número tão grande de pessoas. "O medo e a tensão estão crescendo."